Atividade autogestionada promovida pelo Fórum Mundial de Educação teve participação do Instituto Paulo Freire.
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Sheila Ceccon, do Instituto Paulo Freire, em sua fala na atividade autogestionada sobre Educação Popular. |
Por Sheila Ceccon, no FSM-2016 - Canadá
A atividade autogestionada “Os desafios da educação popular ante a ofensiva neoliberal: a participação social e os direitos humanos”, promovida por organizações do Fórum Mundial de Educação, foi realizada nesta quinta-feira (11/08), em Montreal, no Canadá, no contexto do Fórum Social Mundial 2016. A atividade contou com cinco debatedores(as), representantes de organizações e movimentos sociais do Brasil, Canadá, Espanha e Itália, que falaram sobre concepções, práticas e desafios da educação popular em seus contextos de atuação.
Sheila Ceccon, do Instituto Paulo Freire, falou a partir de uma concepção de Educação Popular que, seja no sistema escolar ou fora dele, é um instrumento de conscientização e politização. Educação que se opõe à transferência seletiva de um “saber dominante” de efeito “ajustador” à ordem vigente. Processo que, incorporando questões relativas à educação socioambiental e à educação em direitos humanos, constrói práticas em que homens e mulheres não se veem apenas como sujeitos anônimos no lugar onde vivem, mas como sujeitos coletivos que transformam a história e a cultura dos seus países. Falou sobre o crescente processo de mercantilização da educação e a necessidade de enfrentá-lo promovendo pedagogias que fazem da opressão e suas causas objeto de reflexão. Destacou que uma educação crítica, política, popular e emancipadora, desenvolvida COM pessoas e povos e não PARA eles, pode promover o necessário engajamento para construir novas realidades, mais solidárias, socialmente mais justas e ambientalmente mais equilibradas.
Kevin Sette, presidente da Associação de Estudantes da Universidade de Winnipeg, falou sobre a abordagem da cultura indígena na Universidade, o racismo nela existente e o processo de resistência em curso. Atualmente todos(as) estudam a cultura dos povos indígenas na Universidade, mas a maioria dos não indígenas, por muito tempo, foi contra esta prática. Apontou o racismo existente, alimentado pelos meios de comunicação e falou sobre uma metodologia educativa que busca fortalecer relações entre indígenas e não indígenas por meio de estudos, diálogo e reflexões sobre a visão eurocêntrica predominante e da prática de atividades pedagógicas que promovem o aprendizado em contato com a vida, com a terra. Disse que cursos de educação popular estão ganhando mais espaço na Universidade de Winnipeg e que o que está acontecendo lá está contagiando outras Instituições.
Albert Sansano, da Confederação Intersindical de Valência, falou dos movimentos de renovação pedagógica na Espanha que atuam na perspectiva da educação popular. Destacou que para desenvolver a revolução do pensamento é preciso desenvolver a revolução da sensibilidade. Não há escola sem compromisso com o entorno social, sem que as famílias sejam o eixo central do trabalho.
Miléne Lokrou, da ALIES, do Canadá, deu ênfase à importância da educação popular como resistência à mercantilização. Falou da educação popular como aquela que “dá alma” aos povos, constrói comprometimento, faz com que se percebam como atores da transformação social.
Aléssio Surian, da UNIOD UPU, da Itália, abordou o tema na perspectiva da sistematização e da descolonização. Citou um trabalho que desenvolve junto a trabalhadores da construção civil, onde os participantes passaram não só a dialogar, mas a construir suas próprias concepções sobre a vida. Um deles declarou recentemente que não sabia o que estava dentro de si mesmo e nem o que tinha poder de fazer. Contou que foi uma importante experiência de co-construir conhecimento, desaprender e aprender, crescer. O grupo de trabalho do projeto, depois de estudar Paulo Freire, resolveu denominar-se “Grupo Paulo Freire”.
Depois das falas da mesa, os participantes reuniram-se em grupos e dialogaram sobre possibilidades de incidência, por meio da educação, no processo de construção de novas e melhores realidades. O conteúdo será, em breve, compartilhado em www.almanaquefme.org.