Biografia

 

Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Recife (PE), em 19 de setembro de 2021. Seu pai, Joaquim Temístocles Freire, era capitão da Polícia Militar, e a mãe, Edeltrudes Neves Freire, fazia trabalhos domésticos, bordava e tocava piano.
 
Paulo Freire cursou o ginásio no Colégio 14 de Julho. Depois de perder o pai, aos 13 anos, mudou-se para o Colégio Oswaldo Cruz. Em troca da gratuidade na matrícula, trabalhou como auxiliar de disciplina. Aos 22 anos, ingressou na Faculdade de Direito do Recife. Durante e após a graduação, foi professor de Língua Portuguesa no Oswaldo Cruz. Diplomado, também passou a dar aulas de Filosofia na Escola de Belas Artes da UFPE.
 
Em 1944, casou-se com Elza Maia Costa de Oliveira, com quem viveu por 42 anos, e tiveram cinco filhos: Maria Madalena, Maria Christina, Maria de Fátima, Joaquim e Lutgardes. Elza faleceu em 1986.Em 1958, Paulo Freire apresentou as bases teóricas de seu sistema de alfabetização de adultos no II Congresso Nacional de Educação de Adultos, no Rio de Janeiro (RJ). No ano seguinte, submeteu uma tese de concurso para a cadeira de Filosofia da Educação na Escola de Belas-Artes de Pernambuco. Foi a primeira elaboração sistemática de seu pensamento.
 

 

Angicos

A experiência mais conhecida de Paulo Freire aconteceu em 1963, em Angicos (RN), quando cerca de 300 trabalhadores, após 40 horas de estudo, foram alfabetizados.

 

 

Nessa época, ele atuava no Movimento de Cultura Popular (MCP), que apostava na alfabetização e na conscientização dos trabalhadores por meio de círculos de cultura. A experiência repercutiu em todo o país. Paulo Freire ainda não havia publicado suas obras mais importantes, mas seus conceitos já eram influentes. Em 1963, após o experimento de Angicos, o então ministro da Educação, Darcy Ribeiro, recomendou a Paulo Freire que concebesse um programa nacional de alfabetização. Ao levantar o número de analfabetos de 15 a 45 anos, a contagem ultrapassou os 20 milhões. O Programa Nacional de Alfabetização foi publicado oficialmente em janeiro de 1964. Uma das metas era alfabetizar 1,8 milhão de pessoas, no primeiro ano, com o “Sistema Paulo Freire”.

Com o golpe civil-militar de 1964, Paulo Freire foi preso e levado para Olinda (PE). Passou 70 dias detido em um quartel, acusado de “subversivo e ignorante”. Solto, partiu para o exílio.

Exílio

Após passar brevemente pela Bolívia, Paulo Freire chegou ao Chile em novembro de 1964, onde permaneceu cinco anos. Foi lá que escreveu sua obra mais lida, Pedagogia do Oprimido, que foi publicada pela primeira vez em 1968, mas só seria editada no Brasil por volta de 1984.

O livro propõe uma revisão da relação entre educadores(as) e educandos(as). O diálogo é visto como “exigência existencial” e deve ser a base para a constituição do processo de ensino-aprendizagem. A obra ainda questiona a hierarquização das escolas e salas de aula e defende que o estudante seja sujeito do processo de aprendizado. Ou seja, os conteúdos não deveriam ser padronizados nem “depositados”, seguindo uma cartilha ou diretriz curricular: todo o processo deve ser construído coletivamente, porque as realidades são diversas. O impacto da obra fora do país foi tamanho que, em 1969, Paulo Freire foi convidado para atuar como professor visitante da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

 

 

No ano seguinte, ele mudou-se para a Suíça para exercer a função de consultor educacional do Conselho Mundial de Igrejas. A experiência contribuiu para que sua obra fosse lida e estudada em todo o mundo. Nesse período de exílio, Paulo Freire esteve em mais de 30 países. Em Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, por exemplo, assessorou o Ministério da Educação. Também prestou consultoria educacional e desenvolveu projetos de educação voltados para a alfabetização e para a redução das desigualdades.

 

 

Volta

No contexto da abertura política do Brasil, que permitiu que as obras de Paulo Freire circulassem no país, também possibilitou seu retorno, no início dos anos 1980, com a Lei da Anistia.

 

 

Paulo Freire filiou-se ao recém-fundado Partido dos Trabalhadores (PT) e atuou por seis anos como supervisor para o programa do partido para alfabetização de adultos. Meses após o fim da ditadura, faleceu a primeira esposa de Paulo Freire, Elza. O educador casou-se novamente, em 1988, com Nita. Também educadora e pernambucana como Elza, Nita conhecia Paulo Freire desde a infância. Quando se tornou Doutor Honoris Causa na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Paulo Freire dedicou o título “à memória de uma e à vida da outra”. Paulo Freire exerceu o cargo de secretário municipal de educação na gestão de Luiza Erundina, na Prefeitura de São Paulo (1989-1992). Liderar a Secretaria foi uma oportunidade de enfrentar, na prática, um modelo educacional ultrapassado, que ele havia questionado nas décadas anteriores. Foi nessa época que surgiu o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA), que foi replicado por centenas de prefeituras do Brasil.

 

 

Outra iniciativa de grande repercussão era possibilidade de abrir a escola nos finais de semana para refeições e atividades recreativas. Estudantes e pais mantinham a escola limpa e faziam questão de ajudar na pintura e manutenção. A experiência na Prefeitura de São Paulo foi descrita por Paulo Freire, em 1991, no livro A Educação na Cidade. Também em 1991, foi fundado, pelo próprio Paulo Freire, o Instituto Paulo Freire, “para reunir pessoas e instituições que sonham com uma educação humanizadora e transformadora”. Sua última obra publicada em vida, Pedagogia da Autonomia, de 1996, expõe a concepção de Paulo Freire sobre a relação entre educadores e educandos. Além disso, elabora propostas de práticas pedagógicas, orientadas por uma ética universal.

 

Reconhecimento

 

 

Doutor Honoris causa por 41 universidades diferentes, Paulo Freire faleceu em 2 de maio de 1997, em São Paulo, em decorrência de um infarto do miocárdio. Em 13 de abril de 2012, Paulo Freire foi reconhecido como patrono da educação brasileira, conforme a Lei 12.612. Em 2016, o projeto Open Syllabus listou os 100 títulos mais citados nas ementas de programas de estudos de universidades dos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia. Pedagogia do Oprimido é o único livro brasileiro na lista e o segundo do campo da educação, com 1.021 citações. 

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