Para comemorarmos o aniversário de Paulo Freire (19/09), revisitaremos algumas de suas reflexões que reafirmam a sensibilidade do Patrono da Educação Brasileira.
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Para Paulo Freire, a alfabetização, como toda educação, é um direito humano. O analfabetismo é, portanto, acima de tudo, a negação de um direito. Não é "erva daninha a ser erradicada", porque não se trata de algo que "brota" naturalmente; ele é uma das faces da injustiça social.
A concepção freiriana de educação fundamenta-se numa antropologia que considera o ser humano como incompleto e inacabado. Todo ser humano busca completar-se e, para isso, precisa ler o mundo, construir conhecimento e aprimorar-se. Reconhecer a alfabetização como direito humano implica considerar todas as pessoas como capazes de produzir conhecimento, produzir cultura e, por meio dela, transformar a natureza e organizar-se socialmente.
A muitos jovens e adultos de hoje foi negada a alfabetização na chamada “idade própria”. E negar uma nova oportunidade a eles é negar-lhes, pela segunda vez, o direito à educação. O analfabetismo de jovens e adultos é uma deformação social inaceitável, produzida pela desigualdade econômica, social e cultural. Há ainda um agravante neste caso: muitos programas de alfabetização de adultos não atendem às necessidades específicas de cada segmento da população: indígenas, negros, mulheres, deficientes, quilombolas, agricultores, populações caiçaras etc., não levando em conta as culturas e as linguagens locais.
O neoliberalismo, contrário à concepção crítica da educação, concebe-a como uma mercadoria, reduzindo nossas identidades às de meros consumidores, desprezando o espaço público e a dimensão humanista da educação. O núcleo central dessa concepção é a negação do sonho e da utopia, não só a negação ao direito à educação integral. Por isso, devemos entender esse direito como direito à educação emancipadora.
A “realidade social injusta”, de que nos fala Paulo Freire, é aquela que não respeita os direitos humanos, que são aqueles direitos que garantem a dignidade da pessoa, independente de sua condição de classe social, de raça, de etnia, de gênero, de orientação afetivo-sexual, de opção política, ideológica e religiosa. No momento em que o governo Temer está extinguindo o Programa Brasil Alfabetizado, a advertência de Paulo Freire é ainda mais atual.
Mais informações: http://www.acervo.paulofreire.org/