O que a cultura do estupro tem a ver com o aumento da gasolina?

Entidades que integram o Comitê Estadual dos Direitos Humanos repudiam violência contra a mulher.

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O que a cultura do estupro tem a ver com o aumento da gasolina? Nós, mulheres e homens das entidades que integram o Comitê Estadual dos Direitos Humanos de São Paulo, vimos repudiar o uso de fotos-adesivos utilizando a imagem da presidenta Dilma. Trata-se de uma montagem com o rosto da presidenta colado a um corpo feminino que aparece de pernas abertas e a imagem, ao ser colada na entrada no tanque de combustível dos automóveis, mostra a bomba de gasolina penetrando entre as pernas da Presidenta. Há venda dos adesivos pela Internet e há carros circulando com os mesmos nas ruas das cidades.

Este tipo de manifestação produz violência, principalmente em um país onde, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, de acordo com pesquisa realizada em 2013, mais de 50 mil pessoas foram estupradas. Se considerarmos que apenas 35% das vítimas fazem registro de ocorrência, é possível inferir que o Brasil tenha convivido, naquele ano, com cerca de 143 mil estupros. E, em 2015, a realidade não é diferente.

Segundo os adeptos da manifestação, trata-se de um protesto contra o aumento da gasolina. Mas, ao olhar os adesivos, é difícil entendê-lo como simples negação à alteração do preço do combustível. Há muito mais do que um protesto contra o aumento da gasolina.

Pessoas que lançam mão desse recurso para protestar são as mesmas que se recusam em aceitar o resultado das eleições democráticas que reelegeram Dilma, que concordam com as práticas autoritárias a que temos assistido no Congresso, que são coniventes com o vazamento seletivo das informações no caso LavaJato que buscam desestabilizar o atual governo, que endossam a criminalização diária da pobreza, o alimento do ódio de classe, a defesa golpista e inconstitucional da redução da maioridade penal, manifestações contra estudos de gênero nas escolas, de intolerância e de homolesbobitransfobia por todo o país. Deparamo-nos cotidianamente com a fabricação do caos pela mídia. Os discursos dos processos de sociabilidade contemporânea revelam um acirramento do aumento da violência diante das insatisfações e uma profunda negação ao diálogo, à busca da compreensão por meio da reflexão, de recusa à politização.

Entendemos o recurso do protesto como uma forma democrática de manifestação, pública ou reservada, de recusa, de insatisfação em relação a alguma coisa ou à atitude ou ação de alguém. A história já nos mostrou tantos protestos e alguns deles trazem imagens inesquecíveis: cravos sendo introduzidos em canos de espingarda; um homem solitário colocando-se à frente de um canhão. Símbolos contundentes da discordância sobre um determinado estado de coisas. Gestos não violentos, mas, nem por isso, menos capazes de gerar consciência e adesão a um protesto.

Os adesivos no carro são o retrato do preconceito, do machismo, da violência contra a mulher, do desrespeito à figura da presidenta. São um ato claro de misoginia, carregado de ódio não somente contra a maior autoridade política do nosso país, mas a todas as brasileiras, eleitoras ou não de Dilma Roussef.

Repudiamos veementemente manifestações deste tipo e conclamamos todos e todas a politizar a política: desafio de todos/as que lutam por justiça e direitos humanos!

 

São Paulo, 03 de julho de 2015.

Comitê Estadual dos Direitos Humanos de São Paulo
Mandato da Vereadora Mazé Favarão/Osasco/SP
Núcleo de Trabalhos Comunitários da PUC/SP
Instituto Paulo Freire
Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos
Centro dos Direitos Humanos e de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente- CEDHECA Paulo Freire
Centro dos Direitos Humanos de Sapopemba
Central dos Movimentos Populares
Ouvidoria da Defensoria Pública de São Paulo
Movimento Nacional dos Direitos Humanos
Espaço Cultural Jardim Damasceno